quarta-feira, 18 de março de 2009

Soneto da Separação

Vinícius de Morais

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente, da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Parte II

No semestre seguinte consegui uma bolsa de Iniciação cientifica pela Universidade, dei mais sorte que juízo, já que uma colega me avisara em cima da hora sobre as inscrições.
Logo no primeiro mês dessa nova atividade, fui chamada para dar aula em uma escola da periferia como professora ACT. Eram duas turmas, uma de 5ª e outra de 7ª. Foi legal. A biblioteca da escola era junto com a sala de professores e com a cantina (comercialização de salgadinhos e doces para arrecadar recursos para a escola). Mesmo nessas condições consegui fazer um bom trabalho com aquelas crianças, levando-as àquela biblioteca precária para pegar os livrinhos.
No ano seguinte, mais uma vez como ACT consegui 20 horas, trabalhava todas as manhãs nas escolas (eram duas) e as tardes na Universidade. Dessa vez não foi tão legal.
Uma escola era da periferia mais violenta da cidade, a outra nem tanto. Na primeira me fiz professora e permaneci por dois anos fazendo tudo que um professor pode fazer pra contribuir no desenvolvimento de suas crianças. Isso inclui até trabalho voluntário!
Na outra, digamos, paguei os pecados dessa vida e, ao mesmo tempo em que não me realizei, tenho certeza que não contribui muito para a vida daqueles alunos.
Nos anos seguintes consegui trabalhar em escolas mais centralizadas, que me propiciaram novos desafios e continuei me tornando professora. Tive até estudante que ganhou concurso de redação. Fiquei muito orgulhosa.
Os três anos que consegui conciliar academia e prática foram essenciais para minha formação. Ao contrário de muitos colegas que só falavam mal das teorias eu sempre gostei delas. Com a ZDP de Vigostsky compreendi muito sobre a aprendizagem de meus alunos, assim como a proposta sócio histórica, pela qual sou apaixonada até hoje. Acho que compreendi bem o significado da tal práxis.
Com a formatura em 2004 veio a ansiedade pelo concurso. Em 2006 não suportava mais a vida de ACT e estava disposta a largar a docência e me dedicar a qualquer outra atividade que não fosse demitida ao final do ano.
Felizmente isso não chegou a acontecer por completo, já que no inicio de 2007 prestei um concurso publico para o município de Laguna e fiquei em 1º lugar. Foi muito legal. Atualmente não trabalho diretamente com crianças do Ensino fundamental, mas com seus professores.
A experiência de sala de aula certamente me deu segurança para conversar com os professores em reuniões e cursos, isso porque sei como eles se sentem, sei da dificuldade de enfrentar muitas vezes sozinhos os problemas de indisciplina, aprendizagens e convivências que a escola apresenta.
Memorial - parte I

Durante nossa existência passamos constantemente por experiências que mudam para sempre a nossa vida. A primeira vez que entrei numa sala de aula, como professora, foi uma dessas experiências.
Uma colega de faculdade precisava fazer uma viagem e pediu que eu a substituísse durante aquela semana Eu estava na 2ª fase do curso de Letras da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, ela na 5ª. A professora me passou seu plano de aula, e disse que daria tudo certo, pois estava tudo no livro didático.
Aquilo já começou mal. A escola que faria a substituição era em um município vizinho a Criciúma e durante o trajeto (1 hora de ônibus pinga pinga) eu fiquei completamente enjoada, sem contar que a cidade tinha um cheiro horrível (soube mais tarde que era de pirita queimada. Cheguei na escola com o sinal batendo e só deu tempo de encontrar a Diretora e ela me indicar a sala.
Quando entrei na sala fiquei chocada. Não posso dizer que parecia um hospício, pois os hospitais de saúde mental que já havia visitado eram bem mais organizados. Mais vale dizer que parecia o fim do mundo, naquelas visões de filmes americanos. Fui adiante, dei as aulas da professora e acho que não foram boas.
Não posso dizer que essa primeira experiência foi boa, estaria mentindo, mas ela foi essencial para minha formação. Nessa escola percebi que tem muita criança precisando de que olhe para elas, as compreendam e principalmente, as ensinem, não apenas conteúdos pré estabelecidos nos currículos, mas as ensinem a viver e a conviver com todas as possibilidades que o mundo nos oferece.
Soneto da Fidelidade
Vinícius de Morais

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angustia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.